segunda-feira, 18 de junho de 2007

I - Elena

Elena Golik havia mergulhado seus belos olhos negros em um novo mundo. Absorvia agora toda a aparência necessária para se reconstituir. Observava atentamente as nuances da esfera em que se encontrava. Fios de alegria seca passeavam por seus longos cabelos como quadros antigos que já não cultivavam valor algum. Manchas de orgia pelo chão a contornavam, vívidas, frenéticas. Um corpo nu apareceu a seus pés descalços. A pele excessivamente branca não a causou espanto, pelo contrário, excitou-a profundamente. Ela se contorcia pelo chão e se arrastava pelo vômito. Este, por sua vez, cintilava como o luar dos amantes. Elena, silenciosa e sutil, abaixou-se até a pobre ninfa, que chorava dolorosamente em lágrimas de silício. Elena então percebeu que podia comunicar-se através da telepatia e isso lhe trouxe um fascínio aterrorizante. -O que há, minha querida? – A bela ninfa permaneceu calada, esboçando um leve sorriso de agradecimento. Após alguns instantes ela respondeu de forma delicada e frágil: -Não me deixam sair daqui. -Eu acabo de chegar. Nem ao menos sei o que é este lugar. – respondeu então Elena com uma expressão ligeiramente assustada. -Este é o recanto das luxúrias – continuou a ninfa – se tu estás aqui é porque desejaste muito intensamente e tornaste alvo de teu próprio desejo. Elena percebeu que flutuava. Nada disso a assustava a ponto de desejar partir. Na verdade era tudo muito excitante para ela. -Isso é tão surreal, eu não posso acreditar no que está acontecendo! – exclamou Elena, com um leve sorriso nos lábios – então finalmente atingi o nodo que busquei há séculos? Sim, estamos na Alva Interminável de Tétis – disse a ninfa – chamada por muitos como o Paraíso inalcançável. -No entanto o alcançamos, não? – disse Elena - Se tu moras aqui porque queres ir para longe? – e debruçou sua delicada mão na perna da nova amiga. -Tenho prazer de todos os gêneros e disso reclamar não posso – disse a ninfa – contudo a solidão é imensa e incurável neste casulo! -Não se aflija, minha bela, eu estou aqui e serei sua nova amiga – respondeu então Elena, levantando-se. As duas, então, caminharam juntas pelo longo corredor que conduzia à Névoa dos Prazeres. Ao aproximar-se de tão sublime fluido, sentia-se cada vez mais o enorme conforto concentrado em suas partículas reluzentes. -Você tem algum nome? – perguntou Elena à ninfa. -Zara. -Que lindo nome, lindo como tu. - Zara sorriu. Elena deu uma olhada ao seu redor. Milhares de casais de diversas espécies copulavam em uma festa de gemidos incessantes. Um inseto se aproximou de Elena, sua aparência lembrava a de um mosquito, e disse-lhe ao pé do ouvido: -Que delícia, adoro mulheres azuis. Elena ficou envergonhada. Após se recompor pensou um pouco no que aquela criatura havia lhe dito. Olhou para si e realmente estava com a pele azul. O Inseto dispôs sua tromba no sexo de Elena e principiou a suga-la. Elena, apesar de achar a cena um tanto quanto estranha e repugnante, adorou a sensação. Nunca havia sentido um prazer tão grande como aquele. Os movimentos selvagens do inseto dominavam-na. Ela estava em êxtase. Zara a repreendeu, autoritária: -Não deixe que este impostor te seduza! – e puxou Elena para si, voltando a caminhar. -Me desculpe, Zara, as coisas aqui são novas para mim. -Este inseto nojento apenas traga um pouco de névoa e as injeta nas novatas. Isso lhe proporciona um prazer momentâneo e então quando se farta do tantra cospe suas vísceras na vítima. -Ah! Bendita seja, Zara, tu me salvaste desta experiência. – Zara aproximou-se de Elena e deu a ela um cálice com néctar. -Beba isto. – Elena bebeu e achou aquilo delicioso. Pediu mais néctar à amiga, mas esta lhe recusou o pedido. Zara repousou sua mão direita sobre o ombro de Elena, retirando delicadamente a alça de seu vestido. Acariciou-lhe os cabelos negros e deitou a moça, agora nua, em um lindo pedaço de noite que passava por ali. Sua pele branca como leite contrastava com a pele azulada de Elena, formando um belíssimo par. Zara mostrou sua língua, dividida em dois pedaços a Elena e lambeu-lhe o corpo, estremecendo. Elena já não tinha mais olhos, devido ao êxtase intenso, mas não se importava com a cegueira que lhe visitava de uma vez. Ela se deliciava com a saliva de Zara. Zara, subitamente, se inclinou, paralisada, e abriu um buraco nos céus que a rodeava. Elena não entendia o que se passava. Elena contemplava seu corpo azul, seus seios triangulares cheios de vigor, a saliva grumosa por todo o seu corpo, suas pernas torneadas e longas, procurando por mais néctar. Zara não mais existia, restava apenas sua coroa de estrelas flutuando pela névoa etérea. Elena sentiu uma enorme solidão, como aquela descrita por Zara, uma enorme angústia por ter perdido a amante perfeita que tanto procurou na castidade rude dos machos. Elena eclodiu num orgasmo mortal.