sexta-feira, 22 de junho de 2007
segunda-feira, 18 de junho de 2007
I - Elena
Elena Golik havia mergulhado seus belos olhos negros em um novo mundo. Absorvia agora toda a aparência necessária para se reconstituir. Observava atentamente as nuances da esfera em que se encontrava. Fios de alegria seca passeavam por seus longos cabelos como quadros antigos que já não cultivavam valor algum. Manchas de orgia pelo chão a contornavam, vívidas, frenéticas. Um corpo nu apareceu a seus pés descalços. A pele excessivamente branca não a causou espanto, pelo contrário, excitou-a profundamente. Ela se contorcia pelo chão e se arrastava pelo vômito. Este, por sua vez, cintilava como o luar dos amantes. Elena, silenciosa e sutil, abaixou-se até a pobre ninfa, que chorava dolorosamente em lágrimas de silício. Elena então percebeu que podia comunicar-se através da telepatia e isso lhe trouxe um fascínio aterrorizante. -O que há, minha querida? – A bela ninfa permaneceu calada, esboçando um leve sorriso de agradecimento. Após alguns instantes ela respondeu de forma delicada e frágil: -Não me deixam sair daqui. -Eu acabo de chegar. Nem ao menos sei o que é este lugar. – respondeu então Elena com uma expressão ligeiramente assustada. -Este é o recanto das luxúrias – continuou a ninfa – se tu estás aqui é porque desejaste muito intensamente e tornaste alvo de teu próprio desejo. Elena percebeu que flutuava. Nada disso a assustava a ponto de desejar partir. Na verdade era tudo muito excitante para ela. -Isso é tão surreal, eu não posso acreditar no que está acontecendo! – exclamou Elena, com um leve sorriso nos lábios – então finalmente atingi o nodo que busquei há séculos? Sim, estamos na Alva Interminável de Tétis – disse a ninfa – chamada por muitos como o Paraíso inalcançável. -No entanto o alcançamos, não? – disse Elena - Se tu moras aqui porque queres ir para longe? – e debruçou sua delicada mão na perna da nova amiga. -Tenho prazer de todos os gêneros e disso reclamar não posso – disse a ninfa – contudo a solidão é imensa e incurável neste casulo! -Não se aflija, minha bela, eu estou aqui e serei sua nova amiga – respondeu então Elena, levantando-se. As duas, então, caminharam juntas pelo longo corredor que conduzia à Névoa dos Prazeres. Ao aproximar-se de tão sublime fluido, sentia-se cada vez mais o enorme conforto concentrado em suas partículas reluzentes. -Você tem algum nome? – perguntou Elena à ninfa. -Zara. -Que lindo nome, lindo como tu. - Zara sorriu. Elena deu uma olhada ao seu redor. Milhares de casais de diversas espécies copulavam em uma festa de gemidos incessantes. Um inseto se aproximou de Elena, sua aparência lembrava a de um mosquito, e disse-lhe ao pé do ouvido: -Que delícia, adoro mulheres azuis. Elena ficou envergonhada. Após se recompor pensou um pouco no que aquela criatura havia lhe dito. Olhou para si e realmente estava com a pele azul. O Inseto dispôs sua tromba no sexo de Elena e principiou a suga-la. Elena, apesar de achar a cena um tanto quanto estranha e repugnante, adorou a sensação. Nunca havia sentido um prazer tão grande como aquele. Os movimentos selvagens do inseto dominavam-na. Ela estava em êxtase. Zara a repreendeu, autoritária: -Não deixe que este impostor te seduza! – e puxou Elena para si, voltando a caminhar. -Me desculpe, Zara, as coisas aqui são novas para mim. -Este inseto nojento apenas traga um pouco de névoa e as injeta nas novatas. Isso lhe proporciona um prazer momentâneo e então quando se farta do tantra cospe suas vísceras na vítima. -Ah! Bendita seja, Zara, tu me salvaste desta experiência. – Zara aproximou-se de Elena e deu a ela um cálice com néctar. -Beba isto. – Elena bebeu e achou aquilo delicioso. Pediu mais néctar à amiga, mas esta lhe recusou o pedido. Zara repousou sua mão direita sobre o ombro de Elena, retirando delicadamente a alça de seu vestido. Acariciou-lhe os cabelos negros e deitou a moça, agora nua, em um lindo pedaço de noite que passava por ali. Sua pele branca como leite contrastava com a pele azulada de Elena, formando um belíssimo par. Zara mostrou sua língua, dividida em dois pedaços a Elena e lambeu-lhe o corpo, estremecendo. Elena já não tinha mais olhos, devido ao êxtase intenso, mas não se importava com a cegueira que lhe visitava de uma vez. Ela se deliciava com a saliva de Zara. Zara, subitamente, se inclinou, paralisada, e abriu um buraco nos céus que a rodeava. Elena não entendia o que se passava. Elena contemplava seu corpo azul, seus seios triangulares cheios de vigor, a saliva grumosa por todo o seu corpo, suas pernas torneadas e longas, procurando por mais néctar. Zara não mais existia, restava apenas sua coroa de estrelas flutuando pela névoa etérea. Elena sentiu uma enorme solidão, como aquela descrita por Zara, uma enorme angústia por ter perdido a amante perfeita que tanto procurou na castidade rude dos machos. Elena eclodiu num orgasmo mortal.
Escrito por Escafandrista em segunda-feira, junho 18, 2007
Prelúdio
-Como começar? Ahn...Senhoras e Senhores, sejam bem-vindos a esta orgia...Oh não, morte aos clichês, terríveis pedaços do vazio ecoados de forma indigesta!
Bem...Na falta de um belo prelúdio só me resta apresentar este tolo aos teus
olhos sonolentos. Sou Friedrich e Nada Mais. Fiquem à vontade, desfrutem das
visões febris. Não sejam tímidos! A beleza de Vênus e seus derivados
encontram solo fértil neste mundo infame...
-Friedrich, com quem fala?
-Ahn...Só um momento, caro público.
Friedrich: Ah, melhor assim, não? Poderão agora reconhecer quem fala, não é incrível? Quase fui descoberto agora, aliás, logo descobrirão esta fresta e certamente serei cruelmente punido com garrotes e pêras. Odeio os malditos garrotes e pêras! Ah sim, odeio também os clichês!
Odeio os malditos garrotes, pêras e clichês! Os garrotes rasgam a carne fresca como hienas famintas. O corpo se torna objeto de horror e asco. A dor induz à castidade obrigatória e o que podemos fazer? É a pior das punições, mas não me venha com as Pêras Vingues!...Ah! Afasta-me o banquete repugnante! Poderia
eu me refugiar no Paraíso? Ah sim, este é o Paraíso e ainda encontro os clichês ziguezagueando pelas passarelas. Outro dia, (é claro que temos apenas um grande e único dia, mas considerem como forma de expressão) decidi visitar minha querida Desdêmona e eis que encontro um deles pairando sobre a névoa.
“E Viveram Felizes Para Sempre” em pessoa, ou melhor, em clichê, ali, diante de mim, com seu jeito tosco de rabisco. Pareceu zombar de mim com suas fagulhas pruriginosas. Furioso, agarrei seu colarinho engomado e o atirei longe, para a boca de algumas guta-perchas, num divertido trocadilho com o destino das belas
sapotáceas. Mas permitam que eu explique o que está havendo, estimados observadores. Oh, que dádiva as terras de Vênus! Certamente uma das mais adoráveis esferas de todo o Cosmo. Sublime em seu cerne, repleto da mais pura luxúria desvairada. No entanto, tal qual os diversos movimentos artísticos,
Vênus, desde sempre romântica, abrigou em sua carne apenas os amantes genuinamente platônicos, compondo assim uma aquarela um tanto quanto Piegas em suas dimensões. Quanto a nós, insanos amantes vanguardistas, não tínhamos lugar naquela festa pomposa. Em reação a isto, surgiu na esfera de
Tétis, uma grande névoa no cosmo, que foi com o tempo se concentrando no próprio centro da esfera. A Alva Interminável de Tétis esboçava suas primeiras cócegas e ao se desenvolver deu lugar à grande orgia alternativa do Universo, onde figuravam os mais diversos tipos de maníacos. Esta é a nossa
morada, onde o tempo não corre e os prazeres são infinitos. Se permanecemos quietos por um momento, lembramos que estamos em um constante e funesto orgasmo e voltamos a senti-lo. Com Licença...(............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................uhh
Escrito por Escafandrista em segunda-feira, junho 18, 2007